quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A SOCIEDADE EM REDE


O termo sociedade em rede vem sendo discutido nas últimas décadas por sociólogos e principalmente por estudiosos da área da informação. A importância da discussão deve-se às transformações sociais provocadas pela interação entre a informação e a sociedade.
Para o sociólogo espanhol Manuel Castells a existente relação entre a revolução tecnológica e a sociedade não é gerada pelo determinismo “é claro que a tecnologia não determina a sociedade. Nem a sociedade escreve o curso da transformação tecnológica, uma vez que muitos fatores, inclusive criatividade e iniciativa empreendedora, intevém no processo de descoberta científica, inovação tecnológica e aplicações sociais, de forma que o resultado final depende de um complexo padrão interativo.” Castells. Infere-se da ideia do autor que a dialética existente entre a sociedade e a tecnologia é na verdade um processo interativo onde a tecnologia reside em incorporar a sociedade e da mesma maneira a sociedade insere-se ao meio tecnológico, mas sem determiná-lo.
            O mundo globalizado e as revoluções tecnológicas oriundas da revolução industrial foram fundamentais na construção de uma nova sociedade: a da informação. Essa nova sociedade em rede, faz parte de um recente cenário envolvido por novas tecnologias de informação e comunicação. Castells atribui essa transformação a uma ideologia que surge no mercado: a do capitalismo informacional, para ele essa nova fase da economia baseia-se nas mudanças provocadas pelas novas tecnologias da informação a partir da década de 80. Nesse modelo de desenvolvimento o informacionalismo, a produtividade está relacionada na tecnologia de geração de conhecimentos, de processamento de informação e da comunicação. Segundo o autor conhecimento e informação são elementos cruciais em todos os modos de desenvolvimento.
Como resultado de que o conhecimento e a informação proporcionam modos de desenvolvimento observa-se como exemplo o surgimento da DARPA em 1960 que posteriormente originou a internet. A DARPA que foi criada com a finalidade de impedir a tomada do sistema norte-americano de comunicações pelos soviéticos em caso de guerra nuclear. O esquema resultou em um modelo de rede que não poderia ser controlada por nenhum centro e composta por milhares de redes de computadores que contornavam barreiras eletrônicas.  Com o objetivo de comunicação composta por muitas redes de computadores foi criada a ARPANET rede que foi estabelecida pelo departamento de Defesa dos Estados Unidos. Posteriormente utilizaram-se dessa rede grupos do mundo inteiro e com todos os tipos de objetivos que diferem dos iniciais.
Hoje a internet é o meio de comunicação mais utilizado do mundo, a União Internacional de Telecomunicações (UIT) órgão que é diretamente ligado à ONU, revelou através de uma pesquisa que até o final de 2010 cerca de dois bilhões de pessoas estarão conectadas na rede mundial de computadores. No fim do ano será mais de 162 milhões de novos internautas em países subdesenvolvidos.
Dados da pesquisa mostram que a proporção de aumento das conexões da internet em países desenvolvidos será menor que de subdesenvolvidos, tendo em vista que o mercado informacional está em expansão.
As novas tecnologias e o advento do capitalismo informacional romperam com o perfil de uma sociedade antes marcada por um mercado de manufatura onde o mesmo artesão cuidava de todo o processo produtivo da matéria prima até o produto final.
Com a revolução industrial a sociedade perdeu o controle sobre o processo produtivo e os artesãos que antes eram patrões tornaram empregados e não mais obtiveram  lucro de seu trabalho.
A revolução industrial foi responsável pela mudança de vida do trabalhador braçal que com o tempo e modernização passou a ser substituído por máquinas que acabaram sendo responsáveis por uma mudança de vida da sociedade da época.
Como resultado da revolução tecnológica, a globalização fenômeno do capitalismo interfere também para uma nova sociedade, ou seja, a de rede que  é vista por sociólogos e estudiosos como uma sociedade globalizada que é altamente tecnológica e que visa conhecimento através de inovações oferecidas por novas tecnologias da comunicação.
Esse novo modelo de sociedade em rede criado através de novas tecnologias de informação e comunicação é visto por Castells como interferências nas estruturas sociais "devemos localizar este processo de transformação tecnológica revolucionária no contexto social em que ele ocorre e pelo qual está sendo moldado" (Castells, 1999: 24).
As novas tecnologias modelam um novo perfil do trabalhador, o mercado informacional exige um perfil de trabalhador que siga e acompanhe o desenvolvimento da informação. Para que esse novo modelo de trabalhador seja inserido no mercado ele deve ter habilidades e qualificações exigidas pelo capitalismo informacional, ou seja, infere-se dessa idéia que não havendo qualificação do profissional ele corre o risco de ficar fora do mercado de trabalho sendo substituído por profissionais mais qualificados, com base nesse aspecto pode-se comparar a era industrial iniciada no século XVIII com a informacional iniciada no século XX onde na primeira houve troca do homem pela máquina e a segunda a do homem pela o conhecimento e informação provocando a exclusão social.
Uma das principais preocupações relacionadas a era informacional é a dos efeitos provocados pela redes na sociedade. Essas não só são repensáveis pelo compartilhamento de informações e interatividade entre as pessoas como também pela mudança comportamental da sociedade. Uma pesquisa realizada recentemente pela consultoria Optimum Research, sugere que as redes sociais tornem os usuários mais mentirosos. A pesquisa apontou que as pessoas conseguem ser mais desonestas frente a um computador do que com uma pessoa. De acordo com a pesquisa 20% dos entrevistados disseram ser mais honestos pelas redes sociais como twitter e facebook enquanto 30% disseram ser mais transparentes pessoalmente. 
 O grande número de pessoas conectadas à internet e participantes de redes sociais como o Orkut e facebook, demonstram a necessidade que as pessoas sentem em se comunicar e em compartilhar informações.
Segundo uma pesquisa divulgada pela Deloitte chamada "O Futuro da Mídia", no Brasil as pessoas passam 3 vezes mais tempo por semanas conectadas à internet do que assistindo TV. A pesquisa revela que o tempo consumido na internet pelos brasileiros é de 32,5 horas por semana enquanto a TV fica com 9,8 horas.
As estruturas sociais podem ser abaladas com o desenvolvimento informacional. Estudos revelam que com o advento da internet muitas pessoas e principalmente jovens tornam-se viciados em redes.
Realizado no inicio do ano por cientistas britânicos, um estudo revelou que quem passa muito tempo em frente à internet torna-se mais vulnerável a apresentar sintomas de depressão. Psicólogos da Universidade de Leeds afirmaram que alguns internautas substituem a interação da vida real por salas de bate-papo e sites de relacionamento social. Catriona Morrison, autora do estudo diz que o excesso de engajamento em sites que servem para substituir a função social normal poderia levar a transtornos psicológicos, como a depressão e a dependência virtual.
As novas tecnologias e seus efeitos sobre a sociedade é o assunto que continuará fazendo parte de debates e estudos pelo o mundo pois o processo informacional é contínuo em desenvolvimento da informação rápida e interativa. 
NAYARA CARVALHO
http://www1.folha.uol.com.br/poder/801906